quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Ainda a reconciliação




Andrei Z.


[Secção desabafos] Comecei a manhã a pensar, escrever e, depois, rezar sobre a reconciliação. É um tema que me é particularmente querido e especial. A reconciliação, sendo um processo complexo, permite a paz, individual e comunitária. Este Verão foi e continua a ser particularmente intenso em conflitos. Além das feridas provocadas pelos incêndios em Portugal, penso imediatamente em Barcelona, Charlottesville, Venezuela, Guam, a juntar a tantos outros locais menos conhecidos (ou menos sonantes) que vivem conflitos com impacto para tantas pessoas. No entanto, outros conflitos são também cada vez mais frequentes: as redes sociais têm sido “locais” onde o ódio tem aumentado nas muitas polémicas cada vez mais frequentes. Começam e nunca terminam de forma sensata. Muito pelo contrário, chega ao extremo de levar a tomar-se medidas governamentais influenciadas pela acessa discussão afastada de séria reflexão diante dos temas complexos. Isto provoca, de forma mais ou menos consciente, o aumento de feridas, divisões, impedindo o básico do humano: o respeito pelo outro. Há temas a reflectir? Sem dúvida que há. Mas, não, ataca-se e “mata-se” na honra e na história. Basicamente, anula-se pessoas, dando azo a ideologias da direita à esquerda tomarem conta da sociedade. Entre o ressabiado e a hipocrisia, políticos e religiosos, gera-se podridão em vez de cura. Por mais que alguns possam desejar ou até mesmo querer, o mundo não é, nem vai ser, de uma só cor. O caminho mais difícil é cada pessoa reconhecer e viver em si mesma a reconciliação, percebendo o imenso que também tem no seu ser. Escrevendo desta forma, pode sair a ideia de ingenuidade ou utopia da minha parte. Talvez alguma, sim. Contudo, além de saber que o caminho de reconciliação é duro, difícil e nada apetecível, precisamente pelo confronto antes de mais com a escuridão e verdade pessoais, acredito no ser humano. Aliás, a minha fé no ser humano está intimamente ligada à minha fé em Deus que se fez frágil, vulnerável e limitado. Pois, é preciso muito silêncio, tanto em quantidade como em qualidade. O silêncio, calando os ruídos e gritos exteriores, permite expurgar os interiores. Calando esses, a vida própria em comunidade ganha mais sentido. Não se pode continuar a banalizar o mal, sobretudo, como li há pouco num artigo, com passos de quotidiano. Esses passos travados podem ser convertidos em bem: em especial no respeito que cada um tem por si próprio e por cada pessoa.

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